O clima de otimismo e a importância da cooperação em todas as esferas nortearam as apresentações do primeiro dia da Conferência ANPEI de Inovação 2019, maior evento de inovação multissetorial do país ancorado em geração de negócios, que está sendo realizado em Foz do Iguaçu.
A abertura oficial contou com a presença de representantes locais e do governo, como o Prefeito de Foz do Iguaçu, Chico Brasileiro; o general Eduardo Castanheira Garrido Alves, diretor superintendente do Parque Tecnológico Itaipu (PTI); o presidente da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), General Waldemar Barros; e o Presidente da ANPEI, Humberto Pereira.
Na ocasião, o prefeito da cidade anfitriã destacou o quanto Foz do Iguaçu, reconhecida pelas suas belezas naturais, tem trabalhado para ser capital da inovação e tecnologia. “A tecnologia e a inovação caminham de mãos dadas e têm que estar presentes na governança corporativa e nas instituições para o desenvolvimento do país”, afirmou Brasileiro.
Todos reforçaram o papel da inovação como diferencial competitivo e a importância do desenvolvimento de políticas públicas. “Há muito indicadores que mostram o quanto o Brasil precisa avançar.
Temos muitas oportunidades, mas precisamos acelerar. E o objetivo do evento é juntar pessoas para cooperarem umas com as outras e provocar essa discussão em torno da cooperação, inclusão, discernimento e coragem. Em todas as edições da Conferência, estamos formando uma massa crítica, mas temos uma longa jornada pela frente”, destaca Humberto Pereira.
Ao longo do dia, foram mais de 20 apresentações, entre painéis, cases de sucesso e workshops. Ezequiel Zylberberg, pesquisador afiliado do MIT Industrial Performance Center, abriu a programação, com a palestra Innovation in Brazil: Advancing Development in the 21st Century.
Para ele, inovar no Brasil é complicado, mas possível, se o ambiente interno se tornar mais colaborativo. Ele apresentou o estudo realizado em parceria com o Senai Nacional, mostrando alguns cases brasileiros que servem de inspiração para fortalecer o ecossistema nacional, como o Porto Digital, no Recife, e a parceria entre a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP) e a Embraer para o desenvolvimento de um avião silencioso. “Temos que aprender muito com esses casos para fortalecer o ecossistema brasileiro”, afirma
O painel “Políticas de Governo para a Inovação” levantou pontos relevantes, como a necessidade de o empreendedor inovar. Carlos América Pacheco, da FAPESP, destacou ser preciso criar políticas de incentivo à concorrência, à difusão da tecnologia e de apoio a startups e negócios empreendedores. “Há 20 anos o tema inovação está na agenda, e o desempenho continua o mesmo, basicamente por conta da economia.
É preciso aumentar a competitividade, levando em consideração as condições das empresas no Brasil, que são diferentes das de fora”, comenta Pacheco. “Vivemos numa crise fiscal da União, com as instituições sendo impactadas pelos cortes. Nós todos concordamos que é preciso encontrar um mecanismo favorável. É preciso que o governo sinalize para onde vamos”, acrescenta.
Em meio aos recentes cortes de investimento federal em pesquisa, o general Waldemar Barroso, presidente da Finep, comentou em outro painel qual tem sido sua postura. “Estamos encarando a escassez como um desafio, não como um problema”, disse. De acordo com ele, a instituição trabalha de forma integrada com ministérios e outros institutos de pesquisa para ampliar a eficiência das atividades, evitando a sobreposição de esforços.
No trabalho de apoio às startups, o objetivo da financiadora é preencher as lacunas do ecossistema. Uma das iniciativas nesta direção foi o lançamento do Seed Capital, programa de capacitação de gestores, e o Centelha, voltado para o apoio financeiro, técnico e de capacitação aos empreendedores no início do projeto, inclusive pessoas físicas.
Além da capacitação do empreendedor, há outro elemento-chave para que a empresa nascente tenha mais chances de sucesso: o conhecimento do mercado de atuação. Segundo Bruno Bragazza, da Bosch, mais de 90% das startups falham por desconhecimento do mercado. Apesar de ser uma empresa de grande porte com mais de um século de existência, a multinacional alemã busca seguir o lema da inovação nos negócios: falhar rápido, aprender rápido.
Parceria entre startups e grandes empresas
Já na plenária promovida pelo Sebrae – Por que grandes empresas estão investindo em startups? -, Natura e Embraer falaram sobre a relação com startups e o quanto isso contribui para os negócios. “Os resultados têm sido muito positivos. Temos uma série de serviços e soluções aplicados ao modelo de negócios da empresa, aos processos de RH e, agora, ao produto”, comenta Marcela Martinelli, da Natura.
Para Rodrigo Carlana, da Embraer, o investimento em startups é algo natural, no entanto, ele destaca a necessidade de usar o conhecimento de forma positiva para todos. “Nossas parcerias têm gerado bons resultados internos, aumentando a eficiência do negócio”, acrescenta. Para Mário Frota Junior, da Regenera Molécula do Mar, “se a grande empresa enxergar valor na startup, pode surgir uma grande ideia”.
Para o especialista em inovação e engajamento de startups, Ricardo Kahn, esse é mesmo um dos melhores caminhos para as grandes empresas produzirem conhecimento e garantirem sua sobrevivência no mercado. “Ninguém inova sozinho”, resumiu.
A Prati Donaduzzi, uma das maiores fabricantes de medicamentos do país, foi um pouco mais além: fundou o Biopark, um parque tecnológico com o objetivo de tornar a região de Toledo, no Paraná, um pólo de inovação em biotecnologia. “A Prati sempre investiu em pesquisa e, para a pesquisa, precisamos de gente. Assim nasceu o Biopark”, contou o fundador Luiz Donaduzzi.
Inovação na Embraer
André Gasparotti, diretor de Desenvolvimento Tecnológico da Embraer, conduziu a apresentação “A saga da inovação na Embraer – O desafio dos próximos 50 anos da Embraer”. Ele falou sobre as estratégias de inovação da empresa, o futuro e desafios, não só da companhia, como também da indústria como um todo, como o comprometimento em reduzir 50% as emissões de carbono até 2050, uma vez que, em 20 anos, devemos ter o dobro de aeronaves.
Sob o tema a Inovação X.0 – As (re)evoluções que transformam a sociedade e mercados, a Conferência ANPEI de Inovação tem a proposta de debater a necessidade de compreender a estratégia de inovação com um novo olhar, muito além do conceito de Indústria 4.0, e discutir como as empresas de todos os setores podem inovar nesse novo cenário.